quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Saudade

Essa dor no peito cresce descomunalmente com o avanço do tempo. Parece algum tipo de força incoveniente, que te puxa por dentro e te deixa sem ar. O presente tempo, chuvoso, é meu favorito, afinal, adoro frio e quase nunca uso casaco. Como era de se esperar, hoje é um dos raros dias que o estou usando.

O som emitido pelas lípidas gotas d'água que caem do céu, lá fora, me prendem por um bom tempo na janela, apenas a encarando, com a mente em outro lugar. Não consigo, porém, arranjar uma explicação para o fato da chuva me atrair tanto nesses momentos melancólicos.

Seria, quem sabe, a nostalgia? Pensando bem, há uma interessante relação. O fato de sentirmos saudade não deixa de ser, como a chuva, algo magnífico: é uma prova de amor, de consideração mas, principalmente, de importância. O problema é quando isso acaba. A saudade sai de seu âmbito agradável para aquele entristecedor. É esse que nos leva a ficar sentados de frente para a janela. Morrendo de frio.

Enquanto estou aqui, pensando, a chuva vai cada vez ficando mais forte, como se acompanhasse, estranhamente, a intensificação do meu abalo. A própria TV, que só agora percebi estar ligada, começa a falar sobre um possível temporal, perigoso, e estava aconselhando a todos que não saíssem de casa.

Quer saber? Vou lá pra fora.

Aqui, na parte de trás da casa, há uma cadeira de plástico, que vem bem a calhar. A chuva cai, pesada. Não me importo. Só o fato de sentir a água cair sobre mim me tranquiliza. Me relaxa. E é disso mesmo que eu estou precisando.Sentado, vendo as gotas espancarem a piscina, volto a pensar. O frio e a chuva, por mais insano que parece, me inspiram.

Volto, agora, a pensar. A saudade, sinceramente, não tem como se relacionar com a chuva. A chuva causa mais danos durante a sua ocorrência, em suma maioria. A nostalgia é muito melhor aproveitada enquanto ocorre: seu término que é o problema.

Seria, portanto, um amor com sentimento de culpa, que me faz gostar da chuva? Até faz sentido! Quando aproveitamos o momento e desfrutamos do prazer de uma companhia, sentimos nossos corações palpitarem, viciados por mais. Porém, quando isso acaba, muitas vezes, sentimos culpa. Sentimos que podíamos ter aproveitado mais. Sentimos que nossas ações não foram voltadas para um aproveitamento perfeito.

Mas é o mesmo que saudade. Bom enquanto dura.

Fui me abrigar, está um frio desgraçado. Me sequei, troquei a calça e coloquei uma camisa preta de manga comprida.Agora, estou aqui, sentado de novo, olhando a chuva cair absurdamente forte.

Meu rosto permanecia molhada. Quando o sequei com a minha mão, senti uma leveza. Aquilo não era chuva: eu estava chorando. Bastou perceber e olhar para a lágrima solitária, no meu dedo, que começei a derramá-las uma após a outra.Foi aí que percebi.

Era como se o céu estivesse chorando comigo.

L&S

Nenhum comentário:

Postar um comentário