quinta-feira, 19 de abril de 2012

Deserto.

Conforme os primeiros passos eram dados, a pequena menina ia começando a deixar suas primeiras marcas nas areias do seu deserto. Assim que o tempo ia passando, ela ia crescendo: as marcas das mãos, sumindo, dando lugar a pés cada vez maiores, cada vez mais espaçados. Podíamos imaginar a figura esbelta da garota que cresceu e foi se tornando mulher. Até que, em certo momento, viu-se que apareceram mais dois passos na vida da garota. Pés maiores, mais largos, passadas mais distantes. Sempre sincronizados. Direita, direita. Esquerda, esquerda.

A vida poderia muito bem ser vista como passos ao longo de uma estrada sem fim.

Até que a garota começou a ver somente dois passos em sua caminhada. Demorou algum tempo, até que ela voltasse a ver os quatros passos novamente. E de novo, dois passos. E de novo, quatro passos.

Ela não aguentou e gritou "Quer dizer então que vai me abandonar? Me deixar para caminhar sozinha, sem ninguém? E me deixar para outros, no final?".

E ele respondeu: "Pelo contrário. Serei sempre eu. Mas, algumas vezes, quando você cair, eu irei te carregar no colo".

terça-feira, 3 de abril de 2012

Acompanhar.

O tempo passa com tanta rapidez que, as vezes, não espera que você se agarre a ele. Nem espera que você acompanhe o que já está agarrado nele. Quase sempre, os sentimentos demoram ainda mais para se agarrar num tempo que nem mesmo você já está atrelado.

Como acompanhar alguém que já se agarrou ao tempo? Como subir uma montanha que já te escalou faz tempo? Como alcançar algo que já se tornou inalcançável para você? Como fazer seus sentimentos te acompanharem?

Não há escolha. A não ser que queira que tudo comece a te atropelar. Que o tempo te esmague, que a montanha caia em cima de você.

Como lutar contra a autofobia? Como enfrentar o desprezo, a falta de amor, o descaso? Como confiar em sentimentos unidirecionais?

São tantas perguntas para poucas respostas. Como se a resposta já estivesse agarrado ao tempo, longe das perguntas, que permanecem sozinhas, mãos-dadas com os sentimentos, ambos cansados de ficar em pé. Lutando para não cair. Mas a gravidade, ela é forte. Tão forte...