segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sonhar é para os fracos.

E é o fim de mais um pesadelo. O sujeito acorda, ainda atormentado com as assombrações trazidas pelo seu sonho. Em parte, ainda está assustado, mas percebe que já está, além de acostumado, conformado com essa rotina de terrores noturnos. Levanta-se, mas não fica de pé, permanecendo sentado na beirada da cama, com a mão na cabeça, sentido finalmente o efeito das doses de álcool desenfreadas da madrugada. Olha para trás, admirando o corpo belo e torneado da inocente jovem, que ainda dorme, e ele pensa:

- Com certeza, ela não está tendo um pesadelo.

Finalmente levanta-se, cata suas roupas espalhadas pelo quarto, e retira-se vagarosamente do quarto, não querendo acordar sua cobaia da vez. Entrando em seu carro, o homem sente aquela pequena culpa que qualquer um em sua situação sente. Começa a pensar se vale a pena levar a frente suas noites de êxtase e embriaguez camuflados por uma viagem urgente ou o trabalho estendido.

Liga, então, o motor. E parte.

O sujeito começa a se corroer. Inicia um pensamento sobre o rumo que a sua existência tinha tomado. Começava a ficar enraivecido consigo mesmo, de estar perdendo tempo pensando em algo assim. A sua espera, está uma devotada mulher que está em constante apunhaladas pelas costas sem ao menos sentir a doer. Ora, é óbvio, é uma dor interna. Como saber,afinal?

Estaciona. A primeira coisa que ele percebe são as luzes acesas. É praticamente como se ele ouvisse-as dizendo que sua presença não era merecida em tal lugar. Incomodado, porém percebendo que a razão era ele mesmo, o homem adentra a casa.

Logo, ao entrar, percebeu algo estranho. As luzes da cozinha estavam apagadas. Normalmente, visto que a cozinha é caminho para a sala, sua mulher acende, sem exceção, todas as luzes, como se mostrasse o caminho para a zona de degola. Sentiu, porém, o cheiro, mesmo que fraco, de cigarro e, visto que sua esposa é uma chaminé, soube que ela estava lá.

Percorrendo a cozinha, observou o cinzeiro lotado de cigarros, mas o que ele estranhou foi o copo ao seu lado: bebida alcoólica. Sua mulher tinha aversão a tal coisa. Entrando pela sala, viu uma cena que, ao mesmo tempo em que lhe sugou todo o ar, uma raiva e uma tristeza misturados cobriram-lhe o coração.

Um casal nu deitado no sofá. As roupas estiradas pelo chão. Exatamente como o quarto que sujeito deixou alguns minutos atrás. Ambos sorriam, como se tivessem tido a melhor noite de suas vidas. “A serenidade nos olhos dela...”, pensa o homem, não sendo capaz de completar seu pensamento. Ajoelha-se, levando os braços ao rosto.

Pensou na culpa que sentiu no carro. Pensou nos momentos. Em todos os momentos possíveis. Sentiu-se um idiota de ter sentido culpa daquela vadia. Levantou-se bruscamente, correndo para a gaveta do armário em frente ao sofá onde deitavam os dois enamorados. Puxando seu revolver, engatilhou-o e apontou-o para a testa da moça.

- Sonhar é para os fracos, disse o homem.
Puxou, por fim, o gatilho.

E é o começo de mais um pesadelo.


L&S

3 comentários:

  1. Cara... cara!!!!
    que foda!!!!!!!!!!!!
    putzz!!! muito foda mesmo esse texto!
    tu deve ter noção do teu talento pra isso, pq se não fosse assim não escrevia desse jeito...

    porra! vou ler outra vez!!!

    abraços!

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  2. Interessante. Os cigarros, o revólver, o álcool, o relacionamento falido....

    A decadência.

    Parece que você está pegando o espírito da coisa.

    Bem-vindo ao clube.

    Abraços,
    Mário

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  3. Irado, irado, irado. Bizarro esse cara, hein!!Hauhauhauh
    Acho que estou descobrindo seu apego por textos trágicos existencialistas (ou não?). Hauhauha
    Parabéns pelo texto =D

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