terça-feira, 26 de maio de 2009

Vícios.

Um lugar escuro. Escondido no banheiro de seu quarto, lá está ele, sentado no chão, com as pernas dobradas e os joelhos batendo no queixo, servindo de apoio para sua cabeça. Tampava seus ouvidos. Tecnicamente, não estava escondido. Era uma fuga espontânea, porém não necessária. Os gritos incessantes atormentavam sua pobre e inocente mente.

Se perguntava porque razões, mais uma vez, a sua casa se mostrava um verdadeiro inferno. Seus pais gritando palavras indefiníveis de maneira histérica, provavelmente por algum motivo idiota ou trivial. Já era uma rotina o garoto chegar e escutar algum barraco e, quando isso não acontecia, ambos tentavam arranjar um motivo para uma nova gritaria. Seria a esse destino que ele estava fadado? Uma vida estressada, um futuro indesejável, uma onda de pessimismo. Tudo tendia para esse caminho. Mas o garoto poderia acabar com tudo aquilo. Era só terminar de puxar a navalha para a direita.

Mas, sempre quando arranjava coragem, ela se esvaía no ultimo segundo. E isso dava-lhe mais tempo para pensar e, quando mais pensava, mais ficava irritado. Preocupado. Até mesmo enojado. Sabia, contudo, que tinha razão no que estava matutando. Essa vida que lhe aguardava era a seus olhos uma loucura. Porque não acabar com tudo rapidamente? Era muito mais fácil.

Nem tanto quanto parece. Não conseguia a coragem necessária. Foi aí que percebeu. Por mais que ele detestasse o que estava para vir, valia mais a pena continuar vivo do que deixar de existir.Quem sabe, encontraria os propósitos para tanta maluquice num mundo tão pequeno se comparado ao universo. Por esses últimos minutos, foi tomado por um sentimento de culpa. Poderia ter se matado. Estranhou por alguns momentos, mas cedeu. Largou a navalha e saiu do banheiro com um sorriso.

Caminhando pelo corredor, chegou a sala, aonde viu seus pais gesticulando e soltando gritos e mais gritos. Passou entre eles como um fantasma, nem sendo percebido. Sentou no sofá, e ligou a TV. Olhou para o lado e viu o maço de cigarros do seu pai. Puxou um e acendeu. Deu o primeiro trago.

A partir daquele dia, o garoto achou um motivo para viver.

Um comentário:

  1. *Palmas*

    Mesmo isso deve ser melhor que a morte.

    Fez pensar bastante. Talvez haja um motivo. Qualquer que seja, é só procurar e achar um numa dessas trivialidades que passam despercebidas por aí.

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