terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O último sopro - Terceiro Capítulo

Julian Omnios não era um ditador qualquer. Era moreno, cabelos pretos longos até o ombro, e seus 2 metros de altura, 100kg e músculos sobressaltados faziam jus a sua maldade interior. Ele não hesitava em matar a oposição ao regime. Possuía uma oratória invejável, que junto com a sua autoridade e postura totalitária, pareciam tornar o seu sistema de governo impossível de cair. Não dependia de nenhum exército que pudesse se revoltar e tomar o poder: possuía sua própria segurança. Gastava horrores com a sua polícia particular: ex-militares colombianos e até mercenários. Isso explica um pouco a sua pão-durisse: mal tinha dinheiro para gastar. O país não era tão rico e boa parte dos seus fundos iam diretamente para o seu exército privado. Era o preço para possuir estabilidade como ditador.

A sua mansão era protegida por três muros: dois laterais e um traseiro. A parte da frente da casa era apenas protegida por uma grade de 7 metros de altura, resistente, que permite que Julian veja o movimento da cidade. A mansão possuía dois andares: o primeiro era como uma grande recepção: um cômodo só, enorme, com um balcão central. Atrás do balcão, uma escada que quebrava em dois lados, dando no segundo andar. Esse possuía apenas dois cômodos: do lado direito, uma biblioteca pessoal do ditador e, do lado esquerdo, seu escritório, que possuía duas varandas. Uma das coisas que Julian mais gostava de fazer era ir para a sua varanda e olhar a população trabalhando, enquanto pensava sobre a própria vida e como ela afetava os outros. Fazia reformas na economia sempre que podia, mas os gastos já eram grandes demais. Uma vez ou outra, trabalhava no setor social, mas a maioria das vezes era pra punir ou matar oposição. São como baratas: dão em todo lugar sem que você espere, e quando você mata uma, já tem outras crescendo para te atormentar de novo.

Era isso que ele fazia, no momento: estava parado na varanda, vendo as pessoas correndo, os carros buzinando, e pensava em como, de um jeito ou outro, tinha uma vida relativamente tranqüila. Não saía da sua cadeira no seu escritório com ar-condicionado nenhuma hora do dia, apenas para refeições. O fato de não trabalhar tanto, ou não se sentir cansado, era explicado pelo fato de que ele pagava os outros para fazer o que precisava fazer.

Na verdade, estava fazendo isso nesse exato momento.

Enquanto estava distraído, alguém bateu na porta:

- Entre! - disse Julian.

Um homem alto, de 1,80, adentrou ao escritório. Possuía um cabelo liso, porém curto, físico atlético, e um rosto que lembrava muito descendência italiana:

- Senhor, ele chegou. - Disse o italiano.

- Ótimo, Francesco, peça para ele entrar!

Entrou uma figura estranha no escritório de Julian. Era mais baixo que o italiano, possuía um físico normal, um pouco magro, mas estava com o rosto coberto por óculos escuros e uma bandana. Era difícil dizer se tinha 16 ou 20 anos.

- Pode nos dar licença, Francesco?

Assim que o italiano saiu, a pessoa começou a falar:

- Boa tarde, Senhor Julian. Espero não ter chegado tão cedo.

- Claro que não! Por favor, sente-se. Aceita uma bebida? Ou... é muito novo para isso?

O homem, por assim dizer, olhou para trás antes de se sentar, tendo certeza de que somente ele e o ditador estavam naquele cômodo. Tirou os óculos escuros, revelando olhos castanhos, comuns.

- Até tenho idade, mas prefiro uma água. Sou mais velho do que o senhor imaginava, mas me dou ao luxo de parecer mais novo para transparecer inocência. Ajuda no serviço.

- Hum, adorei isso! Pois bem, ali tem água. Vou tomar uma dose de uísque, se não se importa.

O homem assentiu. Pegou o copo de água, enquanto Julian enchia seu copinho com um uísque 12 anos. Sentaram-se, e quem começou a falar foi o ditador:

- Bem, aqui estamos. É realmente um prazer vê-lo pessoalmente. Alguns amigos me falaram da sua eficiência e estratégias perfeitas para realizar tarefas. É um pouco difícil contatar você, entretanto. Não utiliza nomes! As pessoas é que te dão vários apelidos: falcão negro, sombra, invisível...

- Sim, acho cada um desses ridículos. Me sinto um super-herói. E, convenhamos, eu jogo para o outro lado.

O ditador riu antes de continuar a falar:

- Bom, vamos logo falar de negócios. Sou um homem ocupado e não gosto de ocupar os outros também. Lembra do que falamos ao telefone?

- Sim, você quer matar duas pessoas.

- Exatamente. No entanto, não quero que você as mate. Eu mesmo quero matá-las.

- Entendo. Bem, assassinos de aluguel normalmente matam as pessoas. Mas é mais difícil trazê-las vivas. Porque não arranja um sequestrador?

- Sequestradores são pra pessoas definidas. Eu não sei ao certo quem são os dois que quero matar.

O homem levantou uma das sobrancelhas.

- Deixe-me explicar. Veja essa foto.

O ditador tirou de uma das gavetas de sua mesa uma foto pequena, 10x15, e entregou ao homem. Haviam 3 pessoas na foto: Um homem, alto, com uma barba rala e cabelo curto, que ele logo reconheceu: Henry Grace, o famoso escritor. Havia feito muito sucesso nos últimos anos, tendo faturado absurdos com isso. Era conhecido em toda a cidade e em boa parte do país. No seu colo, havia um bebe, provavelmente uma menina. Cabelo loiro, olhos verdes, pele muito branca. Abraçado com Henry, estava um garoto. Era moreno, e tinha olhos azuis. Esse garoto e Henry estavam sorrindo, enquanto o bebe brincava com o que parecia ser um chocalho. Deduziu que eram pai e filhos.

- Esse não é Henry Grace, aquele escritor que...

O homem fez uma cara de espanto, como se agora lembrasse realmente o motivo de conhecer Henry Grace.

- Esse mesmo - respondeu o ditador.

- Ora, ele já está morto, então.

- Eu quero os filhos dele.

Agora sim, o assassino estava começando a entender.

- Por isso, não sabe ao certo quem você quer matar. Não sabe como eles são hoje em dia porque não tem uma foto mais recente.

- Sim, mais ou menos isso.

- Mas porque matá-los? Não era Henry que lhe fazia oposição?

O ditador olhou um pouco para o assassino, até que se levantou calmamente e começou a andar pelo escritório:

- Veja bem. Um homem na minha posição não se pode dar ao luxo de ter qualquer tipo de ideia contrária se formando na cabeça de qualquer cidadão do meu país. Se alguém tenta fazer alguma manifestação, dou o primeiro aviso. Mando alguém dar umas porradas na pessoa e fazer com que ela se cale. Se ela continuar, destruo alguma propriedade dela e lhe dou um segundo aviso: "se eu tiver que voltar, vou levar tudo". Poucas pessoas entendem isso. Se ela continuar, é simples: eu a mato junto com toda a sua família. O problema é que o desgraçado do Henry devia saber disso. Depois de trazê-lo aqui, torturá-lo e matá-lo, fui queimar sua casa e matar os seus filhos. E não é que eles haviam sumido? O maldito escritor deve ter-lhes mudado de casa, não sei. Provavelmente para uma bem escondida. Não cogito a possibilidade deles terem sido mandados para fora da cidade, muito menos para fora do país. Henry não possuía família, além dos filhos e da mulher que morreu no parto desse bebe da foto. Mandei meus homens procurarem por esses dois, e algumas vezes encontramos rapazes parecidos. O foda é que eles não devem estudar: mandei os nomes Jensen e Maryanne Grace para todas as escolas da cidade, e nada. Henry fez muito dinheiro, muito dinheiro mesmo. Deve ser por isso que não os encontro: eles saem pouco.

O ditador parou para respirar, enquanto o homem continuava olhando a foto. Ele já tinha visto aquele menino em algum lugar.

- Mandei já alguns do meu pessoal vasculharem casas pela cidade inteira, batendo de porta em porta. Algumas vezes não respondem, e acabamos tendo que arrombar as casas. Já pegaram pessoas tomando banho, casais fazendo sexo, algumas casas aparentemente vazias mas não abandonadas, como se as pessoas tivessem saído da casa no momento que meus homens entram. Não tive sucesso de nenhuma forma. Por isso, estou apelando para você. Além de ser eficaz, dizem que você possui estratégias infalíveis. Estou precisando de uma.

- Esse garoto me é familiar.

- Como disse?

- Esse garoto. Eu acho que já vi alguém como esse mesmo fenótipo, algumas vezes, na praça do chafariz. Sempre indo numa padaria ao lado da... Veja, tenho um irmão que trabalha numa loja de móveis na praça, e do lado dessa loja, tem uma padaria. Tenho certeza que já vi alguém muito parecido com esse garoto por lá. Vou me certificar. Posso guardar essa foto?

O ditador assentiu e disse:

- Perfeito, então! Já tem por onde começar!

- Certamente. Vou precisar de alguns homens seus. Uns 3 ou 4. Já tenho um plano em mente.

- Hum... Certo, fique a vontade. Então, vamos aos preços?

- Por assassinato, eu costumo cobrar 50.000 por cabeça. 100.000 por serem filhos de um famoso, e por você ser capaz de pagar, principalmente. Mas para trazê-los vivos, é mais complicado. Preciso de discrição. Vou cobrar 250.000 por cada um. Meio milhão. Um preço bom para um serviço infalível, certo?

O ditador se corroeu. Não deixava de ser muito dinheiro. Mas sua cabeça não funcionava assim. Era preciso passar aquela mensagem. Não podia abrir exceções. Matar a família inteira sempre. Não deixar oposição crescer. A qualquer preço. No caso, era meio milhão.

- Feito.

- Metade agora, metade na entrega.

- Como quiser.

O homem se levantou. Apertou a mão do ditador, dizendo:

- Então, temos um negócio fechado.

Julian sorriu, confiante. Dirigiu-se a sua mesa, mas não sentou. Retirou um quadro que fica atrás dela, revelando um cofre. Digitou uma senha gigante, abrindo-o, e retirou o dinheiro.

- 250.000. Quando conseguir os dois, receberá o resto.

Colocou o dinheiro numa maleta e entregou ao assassino. Esse fez uma reverência e, no momento que estava saindo, Julian perguntou:

- É, bem, agora que acabamos... Pode me dizer algum nome seu que sirva? Sabe... facilitar a comunicação. E eu gosto de chamar as pessoas pelos seus nomes.

O homem virou e tirou a bandana. Revelou cabelos pretos e lisos, esparramados para os lados. Guardou a bandana no bolso e, antes de colocar os óculos escuros de volta, disse:

- Pode me chamar de Bill.

E, por fim, saiu do escritório.

4 comentários:

  1. "O foda é que eles não devem estudar" Hahahahaha. Ditadores adolescentes. Hahahahahaha. Mt bem escrita kra, parabéns.
    P.S: agora vc sabe minha identidade secreta. Ou n.

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  2. Bill, seu filho da putaaaaaaaaaaaaaaa! =@
    #mataele !

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  3. O______O
    CARALHO!!!!! Fueda!!!
    Continua logo, danada!!

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