sábado, 22 de outubro de 2011

Escolhas e perdas.

Um corredor estreito, escuro, frio. Atrás dele, uma parede: fim da linha. A sua frente, a escuridão que parecia não ter fim. Deu um grito rápido, e sua voz se perdeu naquele infinito. Esticou seus braços horizontalmente: exatamente a largura do corredor. Ele queria sentar e ficar ali pra sempre. Chegou a fazê-lo, mas algo lhe motivou a andar. A seguir seu caminho. E assim o fez, saindo daquele chão congelante e caminhando, apoiando-se nas paredes e seguindo com dificuldade.

Não sabia seu nome. Na verdade, ele não sabia nada. Era apenas uma eventualidade, algo passageiro, algo menos importante do que o caminho que estava seguindo. Sabia disso. Não sabia porque, mas sabia que só estava caminhando por um motivo: para que as coisas maiores a ele pudessem continuar funcionando. Era um escravo de si mesmo, algo a ser descartado, algo a ser usado. No entanto, prosseguiu. Instinto.

Após um longo tempo de caminhada sofrida e lépida, chegou a uma divisão. Duas portas. E nesse momento, apareceu uma entidade de preto na bifurcação. Era mais alto que o sujeito, magra, sombria, estranha. Pensou na Morte, mas sabia que não era. Percebeu que não era nada demais: era apenas o seu maior medo lhe obrigando a fazer uma decisão. Nada mais do que isso.

- A porta da esquerda, meu jovem, ela te trará felicidade. Mas uma felicidade insustentável, rapaz. Ela irá tornar a sua vida maravilhosa... Mas por um tempo, somente. E quando você perceber, estará perdendo as coisas. Quem sabe, continue feliz. Quem sabe, valha a pena. Quem sabe, você consiga ser feliz a vida inteira.

- A porta da direita, lhe trará dor. Dificuldade, e sofrimento. Você passará por maus bocados, menino. Vão te tirar tudo. Vão te tirar a felicidade, vão te tirar o amor, vão te tirar seu coração. Mas você deve lutar, garoto, você deve sobreviver. Você deve permanecer forte. Você deve enfrentar seus medos de frente. Nunca fuja, nunca se esconda. Se conseguir sobreviver, lhe garanto a felicidade eterna.

Tudo se retorceu. A figura continuou ali, mas a visão do sujeito ficou turva. Era a dúvida. Era a compreensão da mensagem. Era a incapacidade de associação com o real. Era difícil. Muito difícil.

Um tempo se passou, e o sujeito permaneceu imóvel, até que a figura, compadecida, lhe disse:

- Percebo a imagem em sua alma, pequeno homem. Percebo o seu futuro. Você pode ser grande. Você pode ser forte, poderoso, capaz. Vou lhe dar uma opção. Escolha uma das fortes. E, caso você sinta-se errado de sua decisão, poderei lhe fornecer a troca. Uma troca, somente. O que você acha?

Pensou. Assentiu. Tomou coragem. Entrou pela porta da direita.

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O mesmo fim do caminho. O mesmo frio. A mesma escuridão. Estava lá de novo. Estava fraco. Pálido, insano. Tentou levantar, mas não conseguiu. Tentou de novo, sem sucesso. Recuperou suas energias, e conseguiu se erguer, apenas para a bifurcação aparecer diante de seus olhos, e a mesma figura sombria lhe aparecer mais uma vez.

- Vejo que está fraco. Vejo que está sofrendo. Mas, aguente, rapaz. Aguente. Seja forte. Sobreviva. Você precisa. Todos confiamos em você. Não desista.

Não conseguia falar. Apenas apontou para a outra porta.

- Pare. Lute. Por favor... Não desista. Permaneça lutando. 

Balançou a cabeça negativamente. Apontou novamente para a porta.

- Pois bem. Se assim deseja...

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Novamente, o corredor, o frio, a dor. Nem tentou se levantar. Não conseguiria, afinal. Era inútil, era em vão. Não havia fim da linha, nem bifurcação, só a escuridão e o infinito.

Após um certo tempo, ela apareceu.

- O que você faz aqui?

Silêncio.

- Eu avisei. Avisei que isso iria acontecer. Você deveria lutar. Fez a escolha errada desde o começo... Não sabia o que estava em jogo. Não sabia o que perderia. Agora, sabe. E agora, o que fará?

- Quero voltar.

- Não posso. Eu te avisei.

- Então me leve, porque aqui não consigo mais viver.

- Seu desejo é uma ordem.

E foi assim que o coração daquele jovem parou de bater, enfraquecido pelas escolhas erradas, levado pelas perdas irreparáveis. 

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