quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Máquina do tempo

- Não funciona. A maldita não funciona. Por tanto tempo tentando construir algo que me fizesse retornar ao meu passado... Tudo em vão. Acho que nunca me senti tão desesperado assim. O que eu posso fazer agora? Minha unica esperança era voltar e corrigir a besteira que eu fiz. O que vai custar a minha vida.

O garoto deitou no chão. Já estava fraco demais para fazer qualquer coisa em pé. Estava pálido. Com frio. Sentou do lado de sua invenção mal-feita, que apenas estalou, soltou faíscas e, por fim, uma pequena explosão. Do seu outro lado, uma escrivaninha pequena de madeira, cerca de 1 metro de altura. Esticou a mão e pegou o quadro preto que ali estava. Olhou fixamente para o retrato, enquanto ia fechando ao pouco os seus olhos. Estava cansado. Tudo o que queria era tirar uma soneca. Deixando o quadro cair de suas mãos, encostou a cabeça na parede e adormeceu. Para sempre.

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Chuva. Um garoto de estatura média-alta, moreno, aparentando adolescência, anda em direção a sua casa a passos leves, fraquejando. Não aparenta danos físicos externos, mas claramente algo o perturba. Chegando em seu apartamento, dirige-se rapidamente ao seu quarto, ligando o ar-condicionado e indo para o computador. Já não sabia mais o que fazer. Olhou para sua mão direita, como se algo estivesse faltando. Passou alguns minutos desprezíveis olhando a tela do monitor, até que desistiu, desligando o computador e indo para a cama. Sucumbiu ao choro e ao sono: precisava descansar. Mas não conseguia. Como poderia, afinal?

As horas se arrastaram e, quando viu, eram 4 horas da manhã. Levantou-se para ligar a TV, e foi nessa hora: ergueu-se de mau jeito, tropeçando sobre seus pés e caindo sobre sua mão direita, com o seu dedo entre o mindinho e o do meio esticado. Sentiu uma dor aguda. Quando conseguiu levantar a ver sua mão, seu dedo estava vermelho. Não estava quebrado, mas doía muito. Foi até a cozinha e pegou um pouco de gelo, colocou por uns 20 minutos, tomou um calmante tarja preta convicto de que precisava dormir. E dormiu. Ali mesmo.

No dia seguinte, foi acordado pela sua irmã mais nova. Olhou para a sua mão direita, e seu dedo estava assustadoramente inchado. Quase preto.

- Porra! Que dor agonizante. Mas deixa, daqui a pouco passa.

Passou-se mais um dia e o dedo não melhorou. Estava agora inteiramente roxo, inchado, e sua mão começou a ficar cada vez mais difícil de mover. Resolveu ver um médico. Teve a notícia de que todos os vasos do dedo se romperam na queda e que o sangue estava acumulando no punho. Mais algum tempo e começaria a arrebentar todos os vasos do seu braço. Teria que amputar a mão.

No dia da cirurgia, não sabia se chorava ou se... chorava. Precisava de alguém ali segurando sua mão boa, fazendo piadas e dizendo que ia ficar tudo bem. Mas ninguém passava pela porta. Era o que ele esperava, ora. A culpa era dele mesmo.

Após a cirurgia, acordou tonto. Tentou se levantar, mas não conseguiu. Não sabia se virar com uma mão só. Começou a chorar. Quando a porta se abriu, enxugou rapidamente as lágrimas. O médico entrou lhe dizendo:

- Tenho uma boa e uma má notícia. A boa é que a cirurgia foi um sucesso. A má é que foi tarde demais. O coágulo gerou uma infecção generalizada que já atingiu seu coração, através dos vasos rompidos. Ele vai parar de funcionar em alguns dias. Sinto muito.

O garoto não sentia mais nada. Aquela notícia nem era a pior da semana. O que lhe ocorreu 3 dia atrás, isso sim foi o pior possível. Assentiu, mas lhe fez uma pergunta que deveria ter permanecido na escuridão:

- Doutor... Se algo tivesse segurado os vasos: Um anel, por exemplo. É possível que os vasos tivessem aguentado.

- Não sei lhe dizer... Mas pela pressão, provavelmente. Muito provavelmente. Uma aliança seria ideal.

O garoto abaixou a cabeça e pediu para ficar sozinho. Quando o médico saiu, ele trocou de roupa e saiu do hospital.

Seu destino era uma rua sem saída. Quase chegando ao fim, avistou um portão preto. Tocou uma das campainhas. Nada. Tocou novamente. Nada. Tentou mais uma vez... e desistiu. Era inútil. Nada aconteceria, não importa quantas vezes ele apertasse. Ficou ali parado, alguns minutos, sem perceber. Minutos que se transformaram em horas. Quando se tocou, já era noite. Então, teve uma idéia.

Voltou para o seu apartamento e se trancou no seu quarto por 5 dias. No sexto dia, havia criado um dispositivo do seu tamanho, usando peças do computador, pedaços da cama e do armário, e uma pedra transparente que serviria como portal de tempo. Em cima, escreveu com tinta vermelha: Máquina do Tempo. O garoto estava acabado. Já perdia toda a cor de pele, estando completamente pálido. Seu braço direito estava roxo, e o seu peito, com as veias sobressaltadas. Mas estava convicto de que tudo daria certo no final.

E... se não desse? Se aquilo falhasse? O que ele faria?

Quando não se pode mudar o passado... O que você faz?

Ligou, por fim, a máquina.

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- Então... Essa é a sua história, pai?

- Bem, mais ou menos. Algumas utopias e imaginações. Mas a mensagem é a mesma.

- Qual mensagem?

- Não se pode mudar o passado. A unica maneira de alterá-lo é agindo no presente e pensando no seu futuro. Entendeu?

- Entendi. Interessante. Realmente... Fascinante. Posso ir dormir agora?

- Fique a vontade, filha.

A garota, baixinha, olhos castanhos e cabelos ondulados, se levantou para ir deitar-se.

- Você fica cada vez mais igual a sua mãe. - o homem murmurou.

- Oi ?

- Oi ? Não, nada, Lívia. Pode ir dormir.

O homem olhou enquanto sua filha subia. Após ela sumir de sua vista, olhou para a sua mão direita. Intacta. Humana. E no seu dedo entre o mindinho e o do meio, uma aliança prateada.

2 comentários:

  1. MUITO FODA!!!!!! MUITO FODA MESMO!!!!!!

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  2. Quase chorei. Muito lindo, ainda mais saber que eu contribui para essa história ;D
    Mas sério, muito bem escrito, muito profundo. Consigo imaginar cada cena, cada emoção..
    Continue assim, BRAGAGÁ.

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