quarta-feira, 16 de maio de 2012

Prisão desejada.

- Ei! Ei! Eu estou aqui! Olha pra mim!

Nada. Óbvio. Ele poderia bater quantas vezes quisesse naquela parede de vidro. Nunca seria notado.

- Ei! Me tirem! Me tirem daqui!

Nem um pio. Estava sozinho.

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Ao acordar, não fazia ideia de onde estava. Sabia que estava no chão, pelo menos. O que não era de lá muito satisfatório. Enxugou os olhos e olhou para o teto. Escuro. Mesmo depois da visão estabilizar, continuava difícil de enxergar. Quando tentou levantar, tropeçou. Tentou de novo, e conseguiu ficar de pé. Agora, já enxerga normalmente, mas tudo continuava disperso, como se mudasse constantemente. Aonde diabos ele estava?

Avistou um corredor a sua esquerda e decidiu segui-lo. Ele era pequeno em termos de largura, mas parecia não ter fim. No fim do corredor, havia uma escada descendo. Ele hesitou: tinha um certo medo de altura e a escada era muito longa. Mas, decidiu arriscar.

Enquanto descia, olhava as paredes ao seu lado, cor de bege, e via inscrições. Algumas frases. E foi quando começou a ficar com medo. Todas as frases que estavam naquelas paredes lhe eram muito familiares. Todas elas haviam sido ditas por ele. E todas pareciam ter uma relação que ele não conseguia fisgar. Seu coração acelerou, seu corpo esquentou, sua respiração falhou. Quando virou, pensando em desistir, viu que já tinha descido bastante. Mas não o suficiente para não ver a parede que tampava a entrada da escada.

Calafrios seguidos subiram a sua espinha. Ficou congelado alguns minutos. Até que viu que só tinha uma saída.

Continuar descendo.

Depois de um bom tempo naquelas escadas, chegou numa porta. Estava tão assustado que nem hesitou: abriu a porta de cara. E um clarão lhe cegou.

Quando voltou a ver, estava sobre um plataforma no meio do quarto. O quarto era inteiramente branco. Havia um menininha na sua frente. Ela era morena, tinha olhos claros, usava um vestidinho rosa. Na frente do vestido estava escrito: "essência pura". Não entendeu a relação. A menininha olhou para ele, e fez um sinal. Colocou o indicador sobre os lábios, significando "fique quieto", "não fale". Em seguida, deu um sorriso, um sorriso bobo, inocente, feliz, sincero. Como se dissesse "vai ficar tudo bem".

Foi aí que, da plataforma, subiram duas placas de vidro vermelhas que aprisionaram o garoto. O choque lhe impediu de reagir, mas quando percebeu, começou a bater no vidro, tentando sair. A menina lhe deu um tchauzinho, e fez um sinal de "me espere", "volto logo". E sumiu.

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Quando ela voltou, estava mais velha. Mas continuava com o olhar puro e inocente. O garoto estava sentado dentro da prisão, como os joelhos no queixo, abraçado as pernas, e olhou para ela. Ela simplesmente agachou ao lado do menino, e tocou na prisão. O menino sorriu de volta, e encaixou as mãos, muito maiores, com a da menina. Ambos continuaram sorrindo. Enfim, ele disse:

- Você tinha razão. Tudo ficou bem, depois que eu entendi aonde você me colocou.

O que o garoto quis dizer foi que, depois de se esgotar batendo no vidro, rendeu-se a prisão, e ao olhar para trás, viu um espelho. E viu que sua desejada prisão tinha a forma de um coração.

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